Cirurgia inédita devolve audição a pacientes

17 de Abril de 2014

imageAos 36 anos de idade, o operador de prensa José Olivando de Sousa acordou, numa manhã, com um ruído estranho no ouvido esquerdo. Procurou médicos, mas sem obter um diagnóstico conclusivo, não conseguiu tratar do problema da forma adequada. Poucos dias depois, o ruído passou para o outro ouvido e, em 15 dias, ele perdeu completamente a audição. O provável motivo, dizem especialistas, foi uma forte infecção, cujas consequências perduram por quase um ano na vida do trabalhador.

Na manhã de ontem, no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), José pode, enfim, recuperar o sentido. O operador foi submetido a um implante coclear binaural, procedimento inovador que permite o estímulo dos nervos auditivo com um único aparelho nos dois ouvidos. Esta foi a primeira cirurgia do tipo executada no Estado, fato que representa, ao mesmo tempo, um avanço para a medicina cearense e a possibilidade de pessoas com deficiência auditiva voltarem a escutar.

Devido ao alto grau de comprometimento do sentido, José Olivando foi um dos dois pacientes selecionados para fazer o implante. Além dele, a estudante Klarissa Pinheiro, 21, que tem capacidade de escuta reduzida desde a infância, recebeu o dispositivo que lhe permitirá ouvir novamente. Ambos foram operados ontem, em intervenções que tiveram aproximadamente quatro horas de duração.

“Eles ficarão no hospital por mais dois ou três dias e só depois de um mês os aparelhos serão ativados pelos fonoaudiólogos. Aos poucos, fazendo terapia, eles vão readquirindo e reaprendendo o conhecimento do som”, explica o médico João Deodato Diógenes, chefe do serviço de Otorrinolaringologia do HGF. Um ano após a cirurgia, ele afirma que os pacientes estarão com a audição perfeita.

Vantagens

Além de ser menos invasivo, uma das principais vantagens do procedimento, diz Deodato, é o custo-benefício. Segundo o especialista, o implante binaural custa, em média, R$ 150 mil, ao passo que o implante bilateral, que instala dois aparelhos auditivos, custa entre R$ 100 mil e R$ 120 mil. “Antes, para que o paciente pudesse recuperar a audição nos dois ouvidos, era preciso fazer um transplante bilateral, com dois aparelhos. Agora, só precisa de um dispositivo”, diz.

Treinamento

Para realizar a cirurgia, os médicos do HGF fizeram treinamentos fora do País e, ontem, foram acompanhados por uma equipe do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp). A unidade em Fortaleza foi autorizada em 2009 pelo Ministério da Saúde a executar implantes cocleares e se tornou o único do Estado credenciada para fazer a cirurgia. No ano seguinte, 24 operações foram efetivadas, meta estabelecida pelo governo federal que se manteve desde então.

Deodato afirma que futuros implantes binaurais serão decididos de acordo com necessidades específicas. “O perfil de cada paciente vai dizer que tipo de implante ele deve usar. Alguns podem precisar do binaural, outros não”, aponta. A recuperação de José Olivando e Klarissa Pinheiro acontecerá no Centro de Saúde Auditiva do HGF, com sessões de terapia fonoaudiológicas.

Conforme Emília Kelma Alves, chefe do serviço de Fonoaudiologia da unidade, parte da recuperação consiste em voltar a associar o estímulo sonora a sua fonte. “É um processo gradativo desde a operação até o resultado final. Por isso que o acompanhamento tem de ser pré, intra e pós-cirúrgico”, explica.

Intervenção muda a vida das crianças

O Hospital Geral de Fortaleza (HGF) realiza a cirurgia de implante coclear do tipo unilateral (apenas um ouvido) desde 2010. Já foram feitos 112 procedimentos. Crianças a partir de um ano e dois meses já podem receber o implante pela rede pública de saúde. Mas para isso é necessário entrar um uma fila de espera e avaliações no HGF.

A dona de casa Marcília Abreu de Almeida é mãe de Nícolas, 4 anos, um dos pacientes beneficiados com o implante unilateral, e relata as melhoras no comportamento do filho. “Ele era muito agitado, gritava e não conseguíamos entendê-lo. Depois do implante, ele é outra criança, todo mundo nota, até as professoras”, assegura. O menino recebeu o implante há um ano e quatro meses.

A chefe de fonoaudiologia do HGF, Emília Kelma Alves Marques, esclarece a diferença entre o aparelho auditivo e o implante. “A prótese amplifica o som, as energias que vêm de fora para dentro. Pessoas com perdas leves tem grandes chances de se moldar com ele. Já o dispositivo estimula diretamente o nervo auditivo”, aponta.

Recuperação

Emília Marques ressalta que, após a colocação do implante, é preciso que o paciente retorne para a estimulação. “O dispositivo é apenas o começo, mas para que a pessoa aprenda a se comunicar, é necessário que ela seja reabilitada”, explica.

A fonoaudióloga responsável pela reabilitação, Marinisi Sales, afirma que, após um mês da cirurgia, a estimulação começa a ser feita. “Primeiro, apresentamos sons instrumentais e só depois vamos evoluindo”, revela. O tempo de recuperação depende de cada paciente. “Só damos alta depois que a linguagem está totalmente estabelecida”, diz.

Fonte: Diário do Nordeste.


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