70,7% dos partos são cesarianos

10 de Maio de 2013

gestanteUm parto digno, natural e humanizado deveria ser comum entre as mulheres, mas nem sempre é assim. Para conquistar esse direito muitas futuras mães precisam mudar de obstetra mais de uma vez e, em algumas situações, são obrigadas a lutar por seus direitos na hora do parto. Nas cinco maternidades municipais de Fortaleza, por exemplo, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), somente no ano passado, 70,7% dos procedimentos realizados foram cesárias.

De um total de 36. 968 partos, 26.155 mulheres se submeteram a uma cesariana e apenas 10.813 puderam fazer o parto normal, ou seja 30,3%. O cenário vem se repetindo ao longo dos anos. Em 2011, dos 36.912 procedimentos, 25mil foram cesarianas, ou seja 67,7%, enquanto que o número de partos normais foi 11.912.

Campanha

Diante dessa realidade e em campanha à favor do parto humanizado e contra a violência obstétrica no momento do procedimento, entidades sociais, mães, gestantes, profissionais e autoridades públicas se reuniram, na tarde desta quinta-feira, 9, em audiência pública, no Auditório da Câmara Municipal de Fortaleza.

Uma das mulheres que estava na audiência em defesa de um parto melhor e mais humano era a psicóloga Cristiane Rodrigues, 34, mãe de Hiago, 9 meses. Ela conta que mesmo antes de engravidar já tinha o desejo de ter parto natural. Contudo, não foi tão fácil quanto ela imaginava encontrar um profissional que quisesse acompanha-la e realizar o parto normal.

“Tive que mudar de obstetra pelo menos três vezes para poder encontrar um que aceitasse me acompanhar e apoiar a minha decisão. Depois de tanta procura encontrei. No entanto, no dia do meu trabalho de parto a médica não estava disponível recorrer a um plantonista em um hospital público”, diz.

Foi então que Cristiane começou a vivenciar a violência psicológica. Segundo diz, quando chegou na unidade o trabalho de parto já estava bem avançado e ela exigiu um procedimento natural. Mas, foi tratada de forma grosseira pelos médicos e por enfermeiras. “Não foi permitida a entrada de acompanhante e tive que tomar as rédeas da situação para poder parir. Fui tratada de forma grosseira e por isso decidi pedir outro médico. Não foi fácil parir de forma natural”, diz.

Para ela, os médicos dificultam o procedimento normal e preferem a cesariana devido a diferença de tempo entre os procedimentos. “A violência obstetrícia não acontece só no momento do parto. Para mim, é qualquer ato físico e de forma psicológica que acontece no pré-natal, durante o parto e pós parto”, diz.

Informação

A doula(acompanhante de parto), Kelly Brasil, organizadora do Ishtar Fortaleza, grupo de apoio ao parto, ressalta que o parto é um momento de festejar e celebrar a vida. Portanto, nada mais humano do que realiza-lo de forma natural. “O parto normal é mais saudável, apresenta menos risco de hemorragias, infecções e complicações para mãe e para o bebê”, diz.

Kelly conta que decidiu ser doula e trabalhar com parto a partir do momento que precisou de informações e ajuda para se submeter ao procedimento e teve dificuldades. ” Tive meu filho há seis anos e eu não tinha informações sobre o parto natural. Precisei pesquisar muito e troquei de médico várias vezes. Portanto, senti vontade de ajudar essas mulheres a terem uma experiência igual a minha”, ressalta a doula.

Contudo, ela acredita que a luta à favor do parto humanizado está só começando, pois ainda existe muito o que fazer para que as mulheres e os tenham consciência dos benefícios do parto normal. O diretor do Hospital Municipal Nossa Senhora da Conceição, no Conjunto Ceará, Ciro Nepomuceno, reconhece que alguns médicos se recusam a realizar o parto normal diante do longo trabalho de parto.

Porém, ressalta que o que falta é uma consciência coletiva a respeito dos benefícios do procedimento. As campanhas são muito importantes. Nós vivemos em período em que há uma cultura do cesarismo, pois as mães transmitem esse desejo para as filhas que acabam acreditando que a cesariana é a melhor opção”.

Demais maternidades serão equipadas

Atualmente, a Prefeitura de Fortaleza dispõe de cinco maternidades. Apesar de todas realizarem partos normais, apenas o Hospital Gonzaguinha de Messejana e o Hospital da Mulher dispõem de uma estrutura adequada para realizar o parto humanizado, quando a mulher é acompanhada por meio das técnicas exigidas pela Rede Cegonha. Para ampliar este serviço a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) estará, a partir deste mês, reformando e trabalhando o ambiente das demais unidades.

Segundo Léa Dias, coordenadora da área técnica de saúde da mulher da SMS, através da verba enviada pelo projeto Rede Cegonha, do Governo Federal, será possível equipar de forma adequada o Gonzaguinha do José Walter, da Barra do Ceará e o Hospital Nossa Senhora da Conceição. “A ideia é que todas as unidades do município estejam preparadas para atender essas mulheres, oferecendo um parto digno, acompanhadas do marido e do obstetra”, diz.

Apoio

A respeito do acompanhamento do pré-natal das gestantes que necessitam dos serviços das maternidades municipais, Léa Dias afirma que está sendo realizado pela secretaria o “Mapa de Vinculação” que direciona essas mulheres para maternidade mais próximas de suas casas.

A medida está sendo feita para evitar a peregrinação dessa gestantes entre os hospitais, problema considerado grave, segundo Léa Dias. “Acho que as ações da Rede Cegonha vem para ajudar o parto normal e vamos trabalhar o mapa de vinculação dessas mulheres para evitar que elas tenham dificuldade no acompanhamento médico”, destaca.

Para incentivar os médicos a realizarem o parto normal, ela ressalta que a Rede Cegonha oferece material educativo e além disso, é realizado, anualmente, de acordo com a demanda das unidades, um curso de técnicas de obstetrícia que trabalha a atenção da mulher nas intercorrência do parto.

Contudo, ela acrescenta que as próprias maternidades trabalham o incentivo as boas práticas na hora do parto, um incentivo, segundo ela da Rede Cegonha. “As maternidades realizam oficinas com os profissionais da saúde baseando-se em indicadores de boas práticas. Essa atividade é continua e auxilia na conscientização dos médicos para a realização do parto normal e também humanizado”, ressalta a coordenadora Léa Dias.

Além disso, segundo ela, a Rede Cegonha está ampliando para 14 o total do número de exames realizados por mulheres que têm gravidez de risco habitual e de alto risco, além de uma atenção intensificada para os bebês até 24 meses.

Fonte: Diário do Nordeste


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