Cearenses estão demorando mais para engravidar

4 de outubro de 2012

Acesso à educação e crescimento da economia são alguns dos principais fatores, segundo Ipece

A faixa etária das mães cearenses mudou na última década. Foi o que constatou uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), que analisou a maternidade no Estado durante o período entre 2000 e 2010, a partir da Declaração de Nascidos Vivos (DV), pertencente ao Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde.

De acordo com o documento, o grupo de mães na faixa etária de 25 a 29 anos cresceu, na última década, 10,7%, ou seja, saiu de 22% para 24,3%. Já o número das que tiveram filhos entre 30 e 34 anos apresentou um crescimento de 19,3%, passando de 13,9% para 19,3%. Em relação ao grupo de mães mais jovens, entre 15 a 19 anos de idade, a pesquisa indicou uma redução de 14,4%, diminuindo de 23,1% para 19,7% no período.

Entre as mulheres de 20 a 24 anos de idade, o Ipece observou a mesma tendência decrescente. A redução registrada pela pesquisa foi de 5,6%, caindo de 30,1% para 29,1% .

Fatores

De acordo com o Ipece, a partir de 2005, a solidificação dos programas de distribuição de renda e um maior crescimento econômico do País foram fatores que fizeram com que as mulheres passassem a ter filhos entre os 20 e 34 anos. O analista de Políticas Públicas do Ipece, Victor Hugo de Oliveira afirma que um dos motivos pelo qual as mulheres optam por ter filhos mais tarde se deve, também, ao acesso à educação.

“Nos últimos dez anos, a educação melhorou e, por isso, as adolescentes ficam mais tempo na escola, o que significa que elas podem receber mais informações a respeito da sexualidade e gravidez precoce”, explica.

Para ele, mais bem informadas, as adolescentes vão optar pela maternidade quando já estiverem prontas profissional e psicologicamente, o que irá ajudar, inclusive, a diminuir o aborto.

“Uma mulher entre 25 e 35 anos tem uma visão e maturidade muito mais formada e consciente a respeito da decisão de ter um filho”.

Mercado de trabalho

Outro motivo para uma gravidez mais tardia, segundo Oliveira, é o crescimento da mulher no mercado de trabalho. Elas estão assumindo cargos que as consomem cada vez mais, o que deixa o sonho da construção de uma família para segundo plano. “Quando uma mulher adia a gravidez, na maioria dos casos, ela está pensando em se estruturar melhor financeiramente para ter todas as condições de criar um filho futuramente”, analisa.

Ainda segundo o analista, atualmente, o número de filhos por família está abaixo de dois, diferente dos anos anteriores ao ano de 2005, quando o número variava de três a quatro filhos.

Riscos

O doutor em Sociologia Daniel Pinheiro acredita que não se pode mudar os objetivos da mulher para esta época, assim como não se pode prever se o adiamento da maternidade, no momento, é algo bom ou ruim para a sociedade. Porém, ele se preocupa que, futuramente, o Brasil passe a ter um crescimento populacional negativo.

“Já li pesquisas que afirmam que isso pode acontecer, no nosso País, até 2025. Cada vez mais envolvidas com o trabalho e os objetivos profissionais, as mulheres vão deixar para ter filhos mais tarde, sem falar naquelas que vão optar por nem tê-los”, diz. Na opinião do doutor, essas escolhas podem mexer com muitas áreas da sociedade.

Ele observa uma proliferação das clínicas de fertilização artificial, o que mostra que decisões tomadas pelas mulheres nos últimos anos já estão demonstrando consequências nos dias atuais.

Média de mães adolescentes é mais alta do que à do País

Apesar da população feminina optar por ter filhos mais tarde, a pesquisa do Ipece mostrou que, em 2010, a proporção de mães adolescentes no Ceará, que é 19,7%, ainda permanece acima da média nacional de 18,8%. Embora, segundo a pesquisa, as meninas entre 15 e 19 anos de idade tenham reduzido sua participação na maternidade, contribuindo, assim, para uma melhora das condições sociais no Estado, o número ainda está acima da média do Brasil.

O documento afirma que, para uma maior diminuição desse número, é necessário que as adolescentes sejam acompanhadas nas escolas por meio dos programas de atenção básica.

A obstetra Ionésia Araújo, explica que a adolescência se caracteriza como um período de transição no corpo e na mente da mulher, no qual ela se prepara para, futuramente, desenvolver atividades profissionais e sócio-familiar. Uma gravidez entre os 13 e 19 anos, segundo a obstetra, poderá causar danos profundos, levando riscos e repercussões danosas que tendem a se manter na fase adulta da mãe.

“Isso acontece, sobretudo, quando a adolescente não recebe os cuidados necessários na sua saúde e os apoios que necessita dos familiares”, explica a médica. Ionésia Araújo ressalta que a gravidez precoce aumenta a chance de ocorrência de partos prematuros e mortalidade neonatal, ou seja, a morte do recém-nascido até o 28º dia de vida, assim como o risco de depressão na gestação e no pós-parto.

Sobre a gravidez precoce, o doutor em Sociologia Daniel Pinheiro comenta que lidar com o susto e as responsabilidades antes da hora não é fácil, mas existem meninas que conseguem superar todos os obstáculos. Contudo, o ideal é que elas estejam preparadas e bem estruturadas na época de ter um filho.

Fonte: Diário do Nordeste


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