Novo mosquito ´bloqueia´ dengue

25 de setembro de 2012

mosquitoA colônia de Aedes aegypti com Wolbachia é criada em laboratório. Depois, os insetos são liberados na natureza
Cientistas da Universidade de Monash, na Austrália, criaram em laboratório um tipo de Aedes aegypti que não transmite a dengue. Isso foi possível porque os pesquisadores introduziram no mosquito uma bactéria que bloqueia a multiplicação do vírus da dengue dentro do inseto, impedindo a transmissão da doença.
Ontem, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou, no 18.º Congresso Internacional de Medicina Tropical, que já iniciou a pesquisa do novo mosquito no Brasil. Os testes devem ir a campo em 2014.
Os cientistas introduziram nos ovos de Aedes aegypti a bactéria Wolbachia, presente em 70% dos insetos do mundo. Essa bactéria atua como uma espécie de vacina para o mosquito. A colônia de Aedes aegypti com Wolbachia é criada em laboratório e, depois, os insetos são liberados na natureza. Livres, eles se reproduzem com mosquitos locais e a bactéria é transmitida de mãe para filho pelos ovos.
Além de bloquear a transmissão do vírus da dengue, a bactéria também tem efeito sobre a capacidade de reprodução. As fêmeas com Wolbachia sempre geram filhotes com a bactéria. No entanto, óvulos fertilizados das fêmeas sem Wolbachia, que se acasalam com machos que tenham a bactéria, morrem.
Por conta disso, mesmo que uma pequena população de insetos com a bactéria seja introduzida na natureza, rapidamente esse tipo de mosquito se tornaria uma maioria.
“A dengue é uma das quatro doenças mais transmissíveis no mundo. Esse é um estudo extremamente promissor, pela forte base biológica, a partir de um processo que ocorre naturalmente”, afirmou o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Para ele, essa tecnologia pode vir a se tornar uma arma muito importante no controle da dengue, ou até na eliminação da doença.
A Wolbachia é uma bactéria já presente na drosófila (conhecida como mosca-da-fruta) e em pernilongos. Quando começou a ser estudada, os pesquisadores esperavam que ela reduzisse o tempo de vida do Aedes aegypti. Além desse efeito, eles descobriram que ela bloqueava a reprodução do vírus da dengue.
Luciano Moreira, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e pesquisador líder no Brasil integrou a equipe de cientistas que descobriu, em 2008, na Austrália, a capacidade da Wolbachia de bloquear a multiplicação do vírus da dengue.
Intransmissível
Moreira explica que não há risco de transmissão da bactéria para o ser humano. A Wolbachia é intracelular (só sobrevive dentro da célula), e ela é maior do que o canal salivar do mosquito. Ou seja, não sai pela saliva, que é por onde o mosquito acaba contaminando o homem.
O mosquito com a Wolbachia já foi testado na Austrália, que não é região endêmica para dengue. Agora, os cientistas querem testar o comportamento do inseto em áreas endêmicas. No Brasil, o projeto está na primeira fase: já houve o cruzamento dos mosquitos com Wobachia, trazidos da Austrália, com Aedes aegypti de populações brasileiras. Na próxima etapa, serão instalados gaiolões, para simular a vida na natureza. Os pesquisadores ainda estão escolhendo a região do Rio de Janeiro que receberá a primeira população de mosquitos com a bactéria.
Financiamento
O projeto, batizado de “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil” conta com financiamento da Fiocruz, do e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CNPq).
Fonte: Diário do Nordeste


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