Número de fumantes passivos é expressivo em Fortaleza

28 de outubro de 2013

d54e8350af28a2670c5caa94958204b3Exposto a uma situação pouco discutida pela classe médica e pela sociedade em geral, o fumante passivo está mais sujeito a riscos do que o senso comum possa imaginar. Embora no Ceará inexistam, na rede pública de saúde, tratamentos ou estudos sobre a ocorrência, no âmbito do Ministério da Saúde, a última pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Riscos e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) comprova que a população da Capital, acima de 18 anos, registra um percentual de 15,1% de fumantes e, ainda, de 10,3% de fumantes passivos.

Realizada em 2011 e publicada em 2012, a pesquisa é feita por amostragem, tendo ouvido 54 mil pessoas no País e cinco mil em Fortaleza. Embora não seja novidade que o tabagismo aumenta o risco de câncer de pulmão e de infarto do miocárdio, também o fumante passivo não está imune: tem 30% mais possibilidade de contrair câncer de pulmão e 24% de infarto do que a população não fumante. A informação é do médico Flávio Henrique Dourado, articulador da Célula de Atenção às Condições Crônicas da Secretaria Municipal de Saúde, com base em dados da Vigitel.

Segundo ele, a poluição ambiental causada pelo fumo provoca em recém-nascidos de cinco a seis vezes mais riscos que a Síndrome da Morte Súbita Infantil. “A inalação dessa fumaça traz riscos sim, embora pouco conhecidos”, disse o médico, que também é especialista em Medicina de Família e Comunidade. Acrescenta que essa fumaça contém cerca 60 substâncias cancerígenas, como benzeno, chumbo, cianeto de hidrogênio e substâncias tóxicas, como nicotina e outras.

Ainda sobre o assunto, a coordenadora médica do Programa de Controle do Tabagismo do Hospital de Messejana e presidente da Comissão de Tabagismo da Sociedade Cearense de Pneumologia e Tisiologia (SCPT), Penha Uchoa, acrescenta que “o pior exemplo de tabagismo passivo é o da gestante, que carrega consigo um rastro de danos mãe-feto”.

Considera-se tabagismo passivo aquela situação que expõe indivíduos não fumantes à inalação involuntária da fumaça de derivados do tabaco através de cigarro, cigarrilha, charuto, cachimbo, narguilé, cigarro de palha, explica Penha Uchoa. Lembra que, com a proibição do tabagismo em ambiente fechado, a população mais predisposta passou a ser de pessoas em convívio domiciliar, sobretudo crianças.

Os riscos que os fumantes passivos correm, enfatiza, são imediatos, como a irritação ocular (80%), dor na garganta, dor de cabeça e tosse. A longo prazo, o indivíduo pode apresentar tosse, expectoração, chiado e dispneia, além de maior incidência e gravidade de asma na infância, alergias e infecções respiratórias de repetição. “Uma exposição longa e em ambiente fechado, com maior concentração de substância tóxica, aumenta os riscos para a saúde”, cita, ainda, o médico Flávio Henrique Dourado.

Dados disponíveis na literatura, informa, sugerem que a exposição à poluição tabágica ambiental pode levar a prejuízo do desenvolvimento pulmonar com alterações funcionais com persistência na idade adulta.

A médica Penha Uchoa confessou desconhecer se o governo do Estado tem estudos ou indicativos sobre o fumante passivo no Ceará. Também admitiu que o Hospital de Messejana não desenvolve nenhuma ação com as pessoas que são prejudicadas pelo vício no cigarro de outrem.

Já Flávio Henrique Dourado ressaltou que o Município de Fortaleza está implantando nas unidades de saúde o tratamento para os fumantes. “Antes, existia apenas nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e hospitais mentais, junto com o acompanhamento do uso de álcool e outras drogas”, frisou.

A assistência ao fumante é feita em grupos terapêuticos, com uma abordagem cognitiva e comportamental. “Busca-se uma tentativa de mudança de estilo de vida, associada ao tratamento farmacológico”, disse ele, lembrando que são prescritos pelos remédios orais ou adesivos de nicotina. Admitiu, porém, não existir na rede municipal de saúde um trabalho voltado especificamente para fumante passivo.

Sofrimento

Aos 82 anos, dona Maria de Lourdes Carneiro da Cunha enfrenta graves problemas respiratórios. Há quase dois anos, seu pulmão esquerdo parou de funcionar. Desde então, nos momentos em que sente falta de ar, a alternativa é respirar artificialmente, com a ajuda de um cilindro de oxigênio. Considerada pelos médicos que a acompanham como “fumante passiva”, dona Lourdes há seis meses também foi acometida por forte pneumonia que a debilitou ainda mais.

“Já tenho sofrido muito com falta de ar, e, às vezes, fico até cansada”, confessa, completando que nunca gostou de fumar. Casada há 52 anos com Haroldo Cunha, 83, dona Lourdes lembra que, durante muito tempo, o companheiro fumou. Nos últimos 20 anos ele abandonou por recomendações médicas. “Mas eu já tinha recebido muita fumaça”, frisa, suavemente. Um dos quatro filhos do casal, o advogado Haroldo Carneiro da Cunha, confirma: sempre que um médico vê a radiografia dos pulmões de sua mãe, inicialmente já pergunta se ela foi fumante.

FIQUE POR DENTRO

Poluição Tabagística Ambiental

O fumo passivo é também chamado de tabagismo passivo e de exposição involuntária ao fumo ou à Poluição Tabagística Ambiental (PTA). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a PTA é o principal agente poluidor de ambientes fechados e o fumo passivo é a terceira maior causa de morte evitável no mundo.

Embora possa contribuir para o conforto no local, a ventilação não elimina os diversos componentes tóxicos da poluição tabagística ambiental. A adoção de ambientes livres do fumo é o único modo de proteger a população das doenças causadas pela PTA, já que ficou comprovado que não existem níveis seguros de absorção da fumaça de cigarros. A fumaça ambiental de tabaco possui 60 substâncias cancerígenas e seis substâncias capazes de provocar mutação genética, sendo por isso classificada como carcinogênico humano do grupo 1, sem nível seguro de exposição.

A Convenção-Quadro para o Controle do Tabagismo, o primeiro tratado mundial de saúde pública, promovido sob os auspícios da OMS, recomenda que os países elaborem e apliquem leis de ambientes fechados 100% livres de fumo, que se promova a educação para a sensibilização da população e a fiscalização do cumprimento da legislação.

Fonte: Diário do Nordeste.


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